O Fogão, é uma performance artística que aborda criticamente os papéis de gênero e a sobrecarga imposta às mulheres pelo sistema patriarcal. A obra nasce de uma memória pessoal da artista Priscilla Toscano, relacionada ao dia da morte de seu pai, quando sua mãe afirmou que iria "passar uma corrente no fogão", simbolizando a perpetuação das responsabilidades domésticas mesmo em momentos de dor. Esse episódio serve como ponto de partida para uma reflexão sobre o cansaço coletivo das mulheres e a naturalização do dever de cuidado como destino biológico feminino.

A performance coloca uma mulher bem vestida, maquiada e aparentemente dócil, carregando um fogão nas costas no espaço urbano, contrastando a artificialidade da "mulher perfeita" com a realidade opressiva das expectativas sociais. A imagem questiona a invisibilidade do trabalho doméstico e as múltiplas jornadas impostas às mulheres, independentemente de raça, classe, idade ou identidade de gênero. Além disso, a obra explora as interseccionalidades de raça e classe, evidenciando como a figura da "rainha do lar" e da "empregada doméstica" são construções sociais carregadas de racismo e desigualdade.

Ao transportar o fogão — símbolo do espaço doméstico — para o espaço público, a performance transforma a rua em um palco de discussão sobre o peso das normas de gênero e a submissão feminina. A proposta artística busca desnaturalizar o "instinto maternal" e o "dever de cuidado", questionando por que essas responsabilidades são quase sempre atribuídas às mulheres. 

O Fogão é, portanto, uma crítica feminista contundente à estrutura patriarcal, convidando o público a refletir sobre as opressões cotidianas vividas por mulheres de diferentes contextos sociais.